Depois das aulas de Laboratório de Jornalismo, fiquei extenuadamente mais atento à modernização da imprensa, à convergência das mídias e ao futuro, enfim, de nossa profissão, tão facilmente associada ao jornal impresso, mas que talvez mude definitivamente seu perfil. Alguns dias depois, li um email que meu pai me mandou, cujo título era exatamente o que mais foi falado nas últimas aulas: “O Futuro do Jornalismo”, texto escrito por Pedro Doria, cara do Estado de São Paulo que vive em Stanford, e retrata os problemas da atual crise da imprensa e as perspectivas de seu futuro.
A leitura já começa de maneira aterrorizante, com a previsão de que metade dos jornais estadunidenses morrerão na próxima década e os remanescentes ficarão menores do que quando começaram. No Brasil, entretanto, as coisas demorarão mais para acontecer, o que não é essencialmente bom, pois a nossa imprensa, segundo Doria, é conservadora e não sabe ao certo o que deve ser feito. Depois de falar sobre a virtualização das mídias e da informação, ele diz que o modelo clássico de um jornal – busca de total isenção, redatores e publicitários completamente afastados etc. – é falho e já recebe a resposta de um público leitor que não acredita em imparcialidade e não quer gastar dinheiro para obter informação defasada. Doria esclarece que a associação entre internet e notícia de má qualidade também é antiquada e que equipes gloriosas de jornalismo – como a responsável pela renúncia de Nixon – hoje competem com a ação conjunta de blogueiros e leitores. O primeiro passo, segundo o jornalista, para a reinvenção da imprensa escrita é adquirir a confiança dos leitores, perder menos tempo com ‘valores secundários’ e preocupação com a transparência, o que implica em uma mudança de comportamento de toda a classe. A conclusão é esperançosa, aponta modelos para o nosso futuro, afinal a imprensa, para Doria, é o alicerce da democracia:
“Três modelos estão surgindo para sustentar o bom jornalismo. A base é propaganda e continuará sendo. As empresas jornalísticas terão que ser mais enxutas do que jamais foram para lidar com a falta de dinheiro das assinaturas.
O segundo modelo são fundações. Fundações, ONGs financiadoras, estão investindo em seus setores para que o público seja melhor informado sobre assuntos que lhes interessam: saúde, educação, moradia – não importa. É o novo jornalismo militante.
Por fim, não micropagamentos, mas doações.
O público compreende quando sua fonte de informação presta realmente um serviço relevante. É o caso, novamente, do Talking Points Memo. A cada dois anos, após eleições, seu editor-chefe pede doações do público e recebe uma bolada de leitores que são engajados na produção de noticiário do site. A propaganda sustenta os salários em sua pequena redação. Os aumentos de infra-estrutura são bancados por estas doações.
Um amigo meu, Chris Allbritton, cobriu a Guerra do Iraque com doações de seus leitores que queriam uma voz independente. (Chris, diga-se, discorda de mim em quase tudo do que escrevi aqui. Ele considera que leitores devem pagar assinaturas.)
De qualquer forma, doações funcionam de tempos em tempos, para um objetivo específico, em troca de um serviço que os leitores aprenderam a respeitar e apreciar. Não são um modelo recorrente que ajude a bancar o dia-a-dia das operações.
É um mundo muito diferente este que está à nossa frente. E as mudanças estão apenas começando.”
Realmente espero que o jornalismo se recrie e interaja, enfim, com o principal motivo de sua existência: a sociedade. Que a mídia – seja ela impressa, virtual etc. – caracterize-se como reflexo e não doutrinador do seu público, este que não deveria ser encarado como consumidor, mas como participante. Por fim, que eu faça parte disso.
Gabriel